Lá estava ela, com suas tranças e um
sorriso
encantador, virou-se de lado quando chamaram seu nome, a música estava
alta, as pessoas dançavam sem parar, ritmo frenético, lábios e corpos
prontos para experimentar. Deu a mão para a amiga que a guiou até um
canto mais escondido, então, retirou do bolso um pozinho... Riram à toa,
cheiraram e voltaram a dançar. Altas horas - resolveram se reunir em
outro lugar.
Chegou à casa de um amigo de outro amigo, a menina de lábios
bonitos
agora tinha os olhos avermelhados, o rosto afogueado, as palavras
pareciam sonolentas e distorcidas – já estava mais que entorpecida. Mas,
a noite ainda não tinha acabado. Vieram e trouxeram um cachimbo,
acenderam e deram para ela. Nada de hesitação, em seu mundo, apenas mais
uma droga para experimentar. Aos poucos, a consciência que restara se
dissipou, sua mente divagou em um mundo paralelo, suas ações, que ações? Ela nem sabia mais o que estava fazendo.
Acordou muito
tarde – pelo menos ela achava isso. Estava na cama, um cara ao seu lado,
pensou: Quem é este, merda? Viu que estava seminua, mas não se lembrava
de nada. Sentia sua cabeça latejar, começou a ficar ansiosa, queria
desesperadamente um trago, uma cheirada... Qualquer coisa que fizesse
suas mãos parar de tremer. Olhou no relógio, puta merda – minha mãe
vai-me matar! Dezesseis anos ainda não lhe dão o direito de sair pra rua
sem ter que avisar.
Pegou suas roupas, começou a vesti-las. Saia para um lado,
camiseta
para outro, putz! Tomara que ele tenha usado camisinha! Aproveitou o
momento, fuçou nas roupas dele, tinha que ter algo, qualquer coisa.
Achou um baseado, acendeu e inspirou – agora podia começar a ir embora.
Chegou
a sua casa, sua mãe já tinha ido trabalhar. Nem um bilhete, nem uma
chamada perdida – na verdade, ela sabia que sua mãe não ia mesmo ligar –
era o que sua mãe tinha dito, tinha desistido de tentar ajudar.
Olhou-se no
espelho,
já não estava mais bonita. A pele estava desbotada, sem brilho. Os
olhos inchados, escondidos. Havia emagrecido, mais um pouco, pele e osso
- sentia a pele gelada e sem vida.
Novamente, saiu pra rua à procura do que pudesse anestesiar seus pensamentos, fazendo-a parar de pensar em sua vida.
Marcella Barbosa